De acordo com Marisa, apesar da SIM-P ser bastante rara, com cerca de 1.000 casos registrados em todo o mundo, a comunidade médica alerta para a necessidade de a síndrome ser rapidamente reconhecida e tratada. “Neste estudo, a evidência de lesão cardíaca causada diretamente pelo vírus no miocárdio, levando à inflamação, necrose e falência do coração, confirma que a SIM-P é uma das formas possíveis de apresentação da covid-19 em crianças, e que o coração pode ser o órgão-alvo nesses casos”, aponta. “Os estudos até o momento mostram que com a internação e o tratamento, a grande maioria das crianças com SIM-P tem uma evolução favorável e se recupera. Entretanto, os achados deste trabalho alertam para a possibilidade de sequelas cardíacas nessas crianças, que serão acompanhadas.”
“Agora, pacientes com quadros sugestivos de miocardite e suspeita de covid-19 podem receber tratamentos com foco na possível lesão cardíaca que o vírus pode causar”, conclui Juliana. O estudo teve a participação dos departamentos de Patologia, Pediatria, do Instituto da Criança e da Gastroenterologia da FMUSP. A investigação post-mortem foi realizada pelo Grupo de Autópsia Minimamente Invasiva do Departamento de Patologia da FMUSP, que inclui os professores Marisa Dolhnikoff, Paulo Hilário Nascimento Saldiva, Luiz Fernando Ferraz da Silva, Thais Mauad e os pesquisadores Amaro Nunes Duarte-Neto, Renata Aparecida de Almeida Monteiro e Khallil Taverna Chaim.
A professora Elia Garcia Caldini, responsável pelo Centro Multiusuário de Microscopia Eletrônica do HC, conduziu a parte de microscopia eletrônica do estudo. “A microscopia eletrônica é importante para entender a fisiopatologia da doença porque permite localizar o vírus e, ao mesmo tempo, avaliar em profundidade o dano celular”, afirma. Os médicos pesquisadores do Instituto da Criança foram responsáveis pela assistência à paciente, pela avaliação dos dados clínicos e laboratoriais e pela avaliação genômica, com a participação dos professores Magda Carneiro-Sampaio, Werther Brunow de Carvalho e dos médicos Juliana Ferreira Ferranti, Natália Viu Degaspare, Artur Figueiredo Delgado, Carolina Montanari Fiorita, Gabriela Nunes Leal, Regina Maria Rodrigues. O estudo molecular (PCR) foi conduzido pelo professor João Renato Rebello Pinho e a pesquisadora Michele Soares Gomes-Gouvêa, do Departamento de Gastroenterologia.
Mais informações: e-mail maridol@usp.br, com a professora Marisa Dolhnikoff